*Este texto foi originalmente escrito em inglês. Para baixar a versão original, clique no link abaixo:
Este breve artigo apresenta as semelhanças e diferenças entre dois métodos de gestão – sistemático e discricionário – além de descrever uma nova abordagem, denominada “quantamental”.
Por Mark Russell
Gerir recursos de terceiros não é algo fácil. Ao longo dos anos têm sido desenvolvidas inúmeras estratégias de investimentos para tentar obter melhores retornos ajustados ao risco, sendo a maioria abrangida por duas grandes categorias: discricionária e sistemática. Embora a primeira seja mais comum, a segunda tem ganhado bastante popularidade, alimentada pelos avanços computacionais das duas últimas décadas. Este breve artigo delineará as semelhanças e diferenças entre as duas filosofias de investimentos e introduzirá uma nova forma de gestão.
Os gestores discricionários normalmente analisam um conjunto de ativos utilizando análise fundamentalista e conhecimento específico sobre determinados setores econômicos para tomarem as decisões de investimento. Warren Buffet e Charlie Munger, por exemplo, fazem isso porque é difícil automatizar a capacidade de avaliar a robustez de um modelo de negócio, analisar demonstrações financeiras, ou fazer uma avaliação criteriosa da equipe de gestão.
Os gestores sistemáticos, por outro lado, programam algoritmos computacionais, muitas vezes utilizando conhecimentos orientados por dados, para negociar milhares de ativos. Os algoritmos empregam técnicas quantitativas, analisando padrões de preços, volume e volatilidade no mercado. Os algo-traders sistemáticos normalmente não conhecem as especificidades do que estão comprando ou vendendo – ao invés disso, os modelos são “treinados” nas propriedades estatísticas de cada ativo. Assim, não há emoção envolvida na tomada de decisões sistemática – apenas computadores que consomem dados do mercado, executam códigos e geram transações.
Apesar de ser fundamentalmente diferente, um fundo sistemático pode efetivamente implementar condições de rastreio semelhantes às utilizadas pelos fundos discricionários. O resultado? Uma abordagem sistemática-fundamentalista de investimento. A sua construção requer um alto nível de modelagem, mas o resultado é uma vantagem única.
Por exemplo, se quiséssemos uma posição comprada em empresas com modelos de negócio robustos e uma posição vendida em empresas com modelos de negócio frágeis, poderíamos escrever um algoritmo que avaliasse o preço das ações das empresas durante períodos de mercado negativos, mantendo constantes outras variáveis. Isto identificaria as ações que atendem a esse critério e automaticamente compraria as de baixa volatilidade (utilizando a volatilidade dos preços das ações como proxy para a robustez do modelo de negócio) e venderia as de alta volatilidade, sem intervenção humana. Acrescente um rebalanceamento da carteira de poucas semanas e temos uma estratégia sistemática-fundamentalista. Obviamente, esta é uma versão simplificada de uma estratégia (que provavelmente não funcionaria), mas a ideia geral é clara: há mais variáveis do que se poderia esperar que possam ser geridas de forma sistemática, mesmo as com base em análises fundamentalista.
O “dark horse” da gestão de investimentos é a abordagem “quantamental”. Este método mais recente utiliza o melhor dos dois mundos: “análise quantitativa e fundamentalista atreladas para capturar alpha”, como seria tipicamente descrito. Essa abordagem surgiu de críticas às duas formas iniciais de gestão: os gestores sistemáticos tendem a negligenciar o ambiente do mercado, e os gestores discricionários podem estar sujeitos a vieses humanos.
Este método soa como o exemplo do fundo sistemático-fundamentalista, mas há uma distinção importante: os investimentos do tipo quantamental começam com um âmbito mais restrito de ativos e os gestores sabem quais ativos estão negociando. Um exemplo de uma estratégia quantamental é o seguinte: digamos que você está interessado em lojas de varejo e tenta prever o resultado dos seus respectivos relatórios de ganhos. Ao utilizar imagens de satélite para medir o número de veículos estacionados fora de uma loja durante muitos meses, você consegue avaliar como o negócio está progredindo. Comparando esses números com diferentes empresas você consegue estimar uma previsão sobre os próximos resultados financeiros dessas lojas. Nessa análise, são utilizados modelos quantitativos (fórmulas de dados de imagens de satélite) para analisar um aspecto fundamental de uma empresa (lucro).
Estes três tipos de fundos têm dominado a indústria de gestão de fundos. A probabilidade de mais desenvolvimento é alta, mas conhecer essas diferenças como investidor é um passo crucial para encontrar o fundo certo para si. Cada um tem os seus pontos fortes e fracos, e embora os gestores possam apresentar o seu método com uma confiança inigualável, fazer sua própria investigação não traz prejuízo.
Leia também o texto: “O que são fundos quantitativos?”